Adauto Ribeiro Repórter — Imagem/Arquivo
Os antibióticos são comumente utilizados para tratamentos contra infecções bacterianas perigosas, sendo eles uma das poucas opções contra os microrganismos. No entanto, o número de bactérias que desenvolvem resistência aos remédios é bem grande, e segue uma tendência de alta, ou seja, elas estão conseguindo cada vez mais driblar a eficácia dos fármacos.
Essa ascensão, contudo, pode estar próxima do fim – ou ao menos um passo a mais nessa direção -, já que um grupo de pesquisadores da Texas A&M University e da Universidade de São Paulo (USP) descobriram uma forma de superar essa resistência com uso da luz, um tipo de terapia fotodinâmica antimicrobiana (aPDT) – uma reação química desencadeada pela luz visível.
O método de tratamento conseguiu enfraquecer as bactérias a ponto de pequenas doses de antibióticos já conseguirem eliminá-las efetivamente. D
De acordo com o professor universitário do Departamento de Engenharia Biomédica do Texas A&M, Vladislav Yakovlev, “usar aPDT em combinação com antibióticos criou uma sinergia de interação que trabalha em conjunto para uma solução”.
E o melhor, de maneira rápida, já que dispensa o uso de antibióticos caros e que precisam ser utilizados em grandes quantidades e por pelo menos uma semana.
“É um passo na direção certa contra bactérias resistentes”, comemorou o especialista, que também é codiretor do projeto. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Segundo informações da Phys.org, que divulgou o estudo, a ultravioleta foi usada pela primeira vez para esterilizar bactérias há mais de 100 anos.
O tratamento foi baseado no trabalho de Niels Finsen, que ganhou o Prêmio Nobel de Fisiologia em 1903 por usar a luz solar filtrada como cura para a tuberculose da pele. Os avanços da fototerapia perderam popularidade algumas décadas depois, quando os antibióticos se tornaram a arma de escolha contra as bactérias.
A reação das bactérias aos antibióticos começou logo na sequência – elas foram rápidas em reagir aos medicamentos. Sua resistência é originada da seguinte forma: antes que as bactérias sejam totalmente mortas, as bactérias restantes desenvolvem uma resistência ou imunidade ao antibiótico. Essa imunidade é transferida para cada nova célula bacteriana. Ou seja, no uso do mesmo antibiótico ela não será afetada e, mesmo que um mais forte seja administrado, é possível que ela retome o ciclo.
“A terapia fotodinâmica foi uma ferramenta esquecida. No entanto, as bactérias não podem superá-lo. Não há resistência”, destacou Yakovlev, afirmando que o objetivo ao usar aPDT é encurtar o tempo de tratamento e reduzir a dosagem para os níveis mais baixos necessários, o que evita efeitos colaterais.
Vale pontuar que algumas terapias de células cancerosas humanas já usam aPDT para prevenir o crescimento de células anormais, mas o tratamento de bactérias resistentes ainda é uma abordagem nova, mas não a única. Recentemente, falamos aqui sobre uma outra abordagem, essa a partir de uma molécula controladora, que também visa pôr fim aos dias das bactérias resistentes.
Até agora, os resultados com aPDT têm se mostrado positivos. No Brasil, a eficácia e rapidez que a tecnologia oferece ante ao tipo de tratamento poderá beneficiar áreas remotas, onde os pacientes podem consultar um médico apenas uma vez por doença, sem qualquer chance de acompanhamento.
O Departamento de Defesa dos EUA também está acompanhando o projeto de perto, já que se interessa em levar o método para os campos de batalha.
“Imagine as aplicações da vida real: você visita um médico, que usa uma pomada e ilumina a área infectada, e pronto. Seria um tratamento rápido e inofensivo, conforme necessário”, exemplificou Yakovlev.
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