Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou nesta terça-feira (23/8), a pedido da Polícia Federal, uma operação de busca e apreensão em endereços ligados a oito empresários bolsonaristas, entre eles Luciano Hang, da rede Havan, e Afrânio Barreira, do grupo Coco Bambu.
Eles participavam de um grupo de WhatsApp no qual se defendia abertamente um golpe de Estado em caso de vitória do ex-presidente Lula nas eleições.
A operação enfureceu o entorno de Jair Bolsonaro e acontece menos de 12 horas após o presidente declarar que os conflitos com Moraes, agora presidente do Tribunal Superior Eleitoral, caminhavam para a pacificação. Nem Moraes nem a PF caíram na conversa.
No Brasil, ninguém corre o risco de ser preso se assumir em pensamento, em voz alta, em áudio de WhastApp ou em textão de Facebook que prefere levar martelada na rosto a ver um candidato de quem não gosta ser eleito presidente.
Luciano Hang, do Grupo Havan, com Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes
Se o seu tio e o meu se reunirem num grupo de mensagens instantâneas para falar coisas do tipo, nem Moraes nem Lula nem Bolsonaro nem qualquer delegado da PF teria razão para mover um mísero músculo da testa. O nível de influência ali sobre a República é similar a um sopro para a derrubada do Cristo Redentor.
O problema do tal grupo alvejado é que parte dos empresários não era chamada de bolsonaristas por simpatia ou afinidade, mas por convivência. Em mais de uma ocasião o próprio Bolsonaro já manifestou que pôs o cargo à disposição de seus ricos apoiadores.
O presidente já se gabou de mandar trocar o comando do Iphan após o órgão se meter nos negócios de Luciano Hang. O empresário amigo estava irritado com a interdição de uma obra de em um sítio arqueológico.
Ou seja, os integrantes daquele grupo não tinham só proximidade com o poder, mas uma espécie de ascendência.
E não, não estavam apenas trocando figurinhas no campo dos desejos e delírios nas conversas de WhatsApp reveladas pelo colunista Guilherme Amado, do portal Metrópoles.
Um dos integrantes e agora alvo da PF, o empresário Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii, chegou a defender que “se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam (sic) sangue de heróis”.
Meyer Nigri, dono da Tecnisa, falou com todas as letras que uma das consequências das medidas recentes do STF era um estado de “guerra civil” no país.
Outro integrante, o dono da Thavi Construction Victor Odisio, vaticinou que Bolsonaro não levaria a eleição com a atual formação do TSE e que era necessário “intervir antes”.
André Tissot, do Grupo Sierra, especializada em venda de móveis de luxo, lamentava apenas que a intervenção era citada no futuro e não no passado. O golpe, segundo ele, deveria ter acontecido “nos primeiros dias de governo”. Em 2019, afirmou, “teríamos ganhado outros 10 anos a mais”.
Mal a polícia saiu de suas residências, parte dos alvos correu às redes para dizer que eram vítimas de uma grande perseguição política e da interdição do pensamento.
]
Foi o que afirmou, por exemplo, o dono da Havan. “Vivemos momentos sombrios. Ainda somos uma democracia e temos que lutar para manter nossa liberdade de pensamento e expressão”, disse o empresário, que viu seu celular pessoal ser levado pelos agentes e se queixou por ter sido tratado como bandido.
Hang se defende agora dizendo que nunca se expressou usando termos com a palavra "golpe" em suas manifestações. Bobo lá, se houver, foi só quem disse ou escreveu em letras garrafais o que deveria permanecer velado. Hang se esquivou apontando o dedo para quem se manifestou de forma clara.
O fato é que ele não abandonou o grupo quando as palavras “sangue”, “guerra civil” e “golpe” começaram a replicar nas mensagens sem qualquer autocensura ou constrangimento.
O que precisa ficar claro agora é se os desejos de seus integrantes ganharam materialidade em forma de apoio e/ou financiamento.
Nas mãos de Alexandre de Moraes está o inquérito das fake news e dos atos antidemocráticos, que terão no 7 de Setembro próximo uma nova edição.
Em outras palavras: mais do que saber se os empresários preferem ou não um golpe de Estado a perderem as eleições, é preciso esclarecer se eles patrocinaram ou não ataques do tipo.
Na melhor das hipóteses, e caso o patrocínio fique provado e não tenha sido declarado, os empresários podem ser enquadrados na lei eleitoral, já que o candidato supostamente favorecido está em campanha por um novo mandato.
Na pior das hipóteses estamos diante de um crime contra as instituições democráticas.
Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído, é crime previsto em lei e pode render de quatro a 12 anos de prisão.
Comentários